sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um presidente deposto

Parece que o Brasil vem sendo o queridinho da América Latina, ou pelo menos, do presidente deposto Manuel Zelaya, que resolveu se refugiar na embaixada brasileira, em Tegucigalpa. Chegou clandestinamente em Honduras na segunda-feira, 21 de setembro, oitenta e cinco dias depois de ter sido preso e expulso do país, e permanece lá, com total apoio do presidente Lula.

Zelaya já tentou duas vezes regressar ao país e disse que dessa vez viajou durante quinze horas, passando por bloqueios e perseguições. Quando a imprensa já noticiava o seu refugio na Embaixada do Brasil, Manuel Zelaya, em entrevista ao canal espanhol CNN, disse que graças ao presidente Lula tinha proteção na Embaixada do Brasil, demostrando o seu agradecimento ao governo brasileiro.

Lula afirmou depois que o Brasil apoia a permanência de Zelaya na embaixada brasileira pelo tempo que for necessário, falando oficialmente que não cumpriria as exigências feitas pelo governo de fato de Honduras, que consiste em dar asilo formal a Zelaya no Brasil ou entregá-lo à justiça hondurenha. Lula justificou sua posição por não reconhecer um governo golpista.

Com o retorno de Zelaya, a crise política de Honduras se intensifica e gera mais tensão na região. A Embaixada do Brasil conta agora com o cerco de forças militares, além de Organizações Não-Governamentais (ONGs) que levam mantimentos à dezenas de pessoas que estão no local. Contudo, apesar de toda a repercussão do caso e da pressão dos defensores de Zelaya, o governo de Roberto Micheletti se mantém firme em impedir que o presidente deposto volte ao poder.

A atuação do Brasil nesse caso é louvável. Embora as comunidades internacionais repudiem o governo golpista, elas se mantêm em uma posição mais distante que o Brasil, fato esse que deve ter sido levado em conta por Zelaya, quando escolheu a embaixada brasileira para se refugiar e chamar a atenção do mundo contra o golpe hondurenho.

A posição de Lula era o que se podia esperar de um Estado Democrático de Direito. Não importa se a intenção de Manuel Zelaya era se perpetuar no poder, estabelecendo assim um governo ditatorial, nos moldes de Hugo Chaves, da Venezuela. O que se tem de mais importante para se analisar, é o fato de um presidente, eleito de forma democrática, ter sido deposto e expulso de seu país durante o seu mandato.

A comunidade internacional não pode aceitar o golpe de Honduras ou se manter indiferente ao ocorrido, o que pode vir acontecer diante da relutância de Roberto Micheletti em fechar algum acordo. A decisão de Zelaya de voltar a Honduras em um momento em que a imprensa já não estava dando tanto atenção ao caso, foi inteligente. E mais inteligente ainda, foi Lula ter se mantido firme no seu apoio ao presidente deposto.